Ontem foi um dia atipico. Saí de casa e fui até a Redenção. Sendo que da janela do meu quarto posso ver a copa das árvores, este fato já deveria ter se tornado rotineiro. Mas não é.
Fui até o Parque com um amigo encontrar mais alguns amigos. Me senti estranha em meio a tantas pessoas. Tamanha minha falta de intimidade com o Parque da Redenção. Nem parece que somos "vizinhos" a tanto tempo.
Era tanta gente diferente em um mesmo espaço. Mais ou menos como uma "Casa de Cultura" ao ar livre. Capoeiristas, Músicos, Malabaristas, Atores, enfim, Artistas dos mais variados tipos. Se eu tivesse passado a tarde ali sentada em um banco qualquer, não me poderia faltar um caderno e uma caneta. Com certeza teria escrito uma empolgante etnografia.
Caminhar por estes diferentes grupos, me despertava a cada passo uma sensação nova. Na roda de capoeira, o contraste entre o olhar indiferente de pessoas, que ali paravam apenas por curiosidade, e a alegria e o entusiasmo de um grupo de crianças de rua, sentadas no chão frio, assistindo a ginga dos capoeiristas, me fez pensar sobre a "harmonia entre os diferentes" que, aparentemente, existia ali.
Um olhar menos atento pode eleger a redenção como um espaço plenamente democrático. Onde são todos iguais, independente de opção sexual, raça, classe, credo, etc...
Mas onde está a igualdade àquelas crianças? Onde está o respeito àquela mãe que empurrava o carrinho do filho, em pleno domingo, vendendo artesanato, enquanto nos divertiamos?
Voltei para casa pensando em meus privilégios. O privilégio de sair de casa bem agasalhada para ficar de bobeira, além de dispor de dinheiro pra comprar o algodão doce que acompanhou o chimarrão. Tudo isso enquanto aquelas crianças e aquela mulher, representavam o outro lado de uma relação de privilégios, ou seja, para que existam os privilegiados é necessário que existam os que não possuem privilégio algum. Eis o lugar deles neste tipo de relação.
Minha posição confortável, permitiu-me ainda, sentir-me "injustiçada" por ter que chegar em casa e "trabalhar". Ai que dó de mim. Quantas outras pessoas voltaram para casa com a mesma sensação: "E lá se foi meu dia de descanso".
Mas o que pensaram aquelas crianças e aquela mulher em sua volta para casa (se é que possuem uma) ? Com certeza, aquela tarde de domingo, não significou uma tarde de descanso para eles.
Não gosto de fofoca, por isso não espalhem muito, mas dizem as más línguas que somos todos iguais. Será?